As mulheres esquecidas na América

As mulheres esquecidas na América

A viagem carregada de culpa, depressão e até suicídio, que é enfrentada por alguns imigrantes.

Você sabia que detentores de alguns tipos de visto, como cônjuges de estrangeiros contratados por empresas americanas, não podem chegar aos Estados Unidos e sair atrás de um emprego?

Esses imigrantes que precisam de uma autorização especial são, em sua maioria, mulheres qualificadas profissionalmente. São esposas ou maridos de estrangeiros que conseguiram uma oferta de trabalho em lugares sonhados por pessoas de muitas nacionalidades, como Califórnia, Nova York e até mesmo Flórida.

Na viagem atrás do American Dream ficam algumas coisas por dizer.

Como o fato de que não é só chegar lá e sair trabalhando. O fingir que a estadia vai ser uma grande temporada de férias, que as realizações profissionais dessas pessoas podem ser sacrificadas pela conquista conjunta da família.

Mas depois de um tempo, quando a rotina pega, os filhos estão adaptados e os cônjuges já têm seu círculo de amigos, a saudade do trabalho surge com a necessidade das pequenas vitórias de uma carreira. Aparecem aquelas perguntas que todo mundo quer manter em segredo: será que foi tomada a decisão certa?

Em algumas situações, a culpa por ter deixado anos de preparo, estudos e agora não ter mais utilidade no novo país pode levar a um sentimento de não pertencimento. As empresas chegam a perder funcionários que partem de volta para casa por causa do medo do fim do casamento, do receio de perder uma pessoa que não se sente integrada, que muitas vezes já está até com depressão.

Atualmente, a regra permite que certos maridos e esposas façam o pedido de autorização de trabalho.

Isso surgiu justo tentando reter esses estrangeiros altamente qualificados, em quem as empresas investiram para levar aos EUA, e minimizar a interrupção de negócios que aparece quando esses empregados percebem que uma parte importante deles não está inserida no sonho americano: a família.

Entre alguns requisitos de elegibilidade para que os casados com trabalhadores estrangeiros que têm o visto H1B (visto de não-imigrante que permite às empresas contratarem temporariamente trabalhadores estrangeiros com elevado grau de especialização), por exemplo, consigam a permissão de trabalho é que o cônjuge já esteja em processo de solicitação de residência permanente. O que isso significa? Que pode levar anos até que a empresa faça esse pedido de Green Card para o funcionário. Isso se ela tiver interesse, lógico.

Também mudam os prazos de cada processo conforme a nacionalidade e o nível de escolaridade de quem está se aplicando. Quanto mais solicitantes de um mesmo país, mais demora. Quem tem maior nível de escolaridade consegue um pouco antes. É quase que contar com a sorte e muito sobre contar com a paciência.

Não é o caso de alguns outros tipos de vistos, como E2, que pode ser solicitado com prioridade diferente, o que deixa os portadores do H4 um tanto frustrados pela diferença de tratamento.

O cartão de autorização de trabalho do cônjuge também é por um período determinado e muitos profissionais de RH ainda têm dúvidas sobre os requisitos e inclusive pensam que precisarão patrocinar o visto do funcionário novo. Isso quer dizer que se o outro candidato para a vaga for um americano, algumas empresas ainda pensam que será muito mais fácil contratá-lo, mesmo que não seja tão qualificado e experiente quanto o estrangeiro.

O país da liberdade não é a Disney e pode não ser tão livre assim.

As oportunidades de trabalho podem não ser para todos e aquela empolgação de viver um filme na vida real muitas vezes desaparece quando as pessoas descobrem as limitações do seu visto, como não ter o número da Segurança Social e ser totalmente dependente do cônjuge.

Pessoas que tornaram sua carreira a sua própria personalidade, encontram-se com a busca forçada por uma nova identidade, um novo eu que, na verdade, não queria ser uma dona de casa por tempo indeterminado.

Não deixe que o seu sonho vire um desastre.

Antes de imigrar pense em tudo que é preciso para a sua rotina e a da sua família, porque cada um tem necessidades diferentes. Tenha paciência e pense em outras formas de contribuir e continuar ativo na sociedade.

Estar preparado para as intempéries torna o intercâmbio de línguas, culturas e diferenças muito mais fácil de ser abraçado e aproveitado com amor, até porque cada dia é um dia e pode ser que o governo decida mudar tudo outra vez e acabe com essa permissão de trabalho que eles acreditam que diminui as vagas para os americanos.

Ninguém quer perder para a desilusão.

Não há uma resposta para quem pergunta se tudo isso vale a pena. Cada um tem a sua história, seus planos e acredita em coisas diferentes. Mas saber que mudar de país constrói um novo eu, que aquelas raízes ainda existem, mas ficam enterradas para deixar nascer novos frutos, é fundamental para não sofrer a dor de mudar. E isso é em qualquer coisa da vida. É quando você não é mais de lá e não é mais de cá, é só ser.

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