Um passo para a liberdade

Um passo para a liberdade

Somos independentes e isso significa uma coisa: dependemos de nós mesmos.

O cenário é empolgante: um casal feliz e esperançoso, cheio de sonhos e ideais. Um futuro melhor para os filhos que eles carregam com a bagagem mais reduzida do que deveria para cada um deles (culpa das companhias aéreas que prometem preços melhores por malas menores e que nunca conseguem cumprir).

A viagem começa em Porto Alegre e dura mais horas do que gostariam os pais de duas crianças agitadas. Sorte que é noite. Sorte que todas as portas da liberdade estão se abrindo. Sorte que muitas cargas pesadas estão ficando para trás.

No primeiro dia os dois descobrem que precisam outra vez se transformar em polvos, como na época em que os filhos tinham acabado de nascer. Percebem que a liberdade tão sonhada guarda alguns segredos: vocês precisam administrar tudo e todos sozinhos agora. Não há mais avós, tios, família para “dar aquela olhadinha” nos pequenos.

Bate aquela saudade do silêncio, de “emprestar” o filho umas horinhas para poder dormir até mais tarde, jantar fora ou apenas conseguir pensar. Com ela, vem a culpa, velha amiga dos pais, que tira deles a liberdade (algo está indo errado aqui) e carrega uma lista de exigências, avisando que eles precisam ser melhores, mais esforçados, mais comprometidos, mais envolvidos.

Mudar é muito mais sobre disposição do que qualquer outra coisa.

É quando eles descobrem que a vida pode ser florida, basta procurar onde está a primavera. Não dá para se entregar, deixar virar uma depressão. Um cuida do outro, o outro cuida do um, todo mundo cuida de todo mundo. É um intercâmbio de paciência, amor e dedicação grande parte do tempo. A família inteira cresce. A definição da palavra liberdade muda e aquela frase “estamos fazendo isso pelos filhos” também muda.

Fazemos isso por nós todos. Como imigrantes, crescemos e mudamos todos os dias. Temos que ser o mais sinceros que podemos, com eles, conosco. Não dá para prometer que mudar de país é estar de férias, que é ir para a Disney toda semana, apenas para alegrá-los.

É explicar para os filhos que ser livre não quer dizer fazer o que quiser e muito menos ser descomprometido. É, acima de tudo, entender que para exercer esse direito, temos que aceitar que somos independentes e isso significa uma coisa: dependemos de nós mesmos.

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