O real pode ser tanto o que existe fora da mente quanto dentro dela.

O real pode ser tanto o que existe fora da mente quanto dentro dela.

Dane Diaz • 30 de Março de 2018

Alienar. A palavra pode ser definida de diversas maneiras: cessão de bens ou direitos, perturbação mental onde há anulação da personalidade individual, alucinação, alheamento de espírito, loucura. Eu vou falar um pouco sobre essa perturbação mental onde há anulação da personalidade individual.

Tem gente que diz que eu sou alienada. Os realistas, claro. Para não ficar injusto, vou citar também a definição do realista: que representa as cenas reais em toda a sua crueza, preso ao que pensa ser real. E o que é real para uma pessoa não necessariamente significa que seja a verdade do todo.

Percebeu? Realidade e verdade são coisas diferentes. Há uma crítica constante às escolhas do suposto alienado. Acredito, que sendo considerada uma, tenho direito às minhas próprias decisões. Eu desejo atender aos anseios da minha alma e através dos percalços da vida percebi que é a maneira como vivo é que mais tranquiliza o meu ser até agora.

Machuca tanto a minha existência quando assisto ao jornal na televisão que prefiro deixá-la decorando o móvel como uma flor.

Não que eu não tenha interesse, ou que ignore os anseios da humanidade.

Elas vão chegar até mim de qualquer maneira, as notícias. Não posso evitar. Tampouco desejo o isolamento. Apenas prefiro fazer uma boa prece, ou uma deliciosa leitura ao invés de aumentar o rio de sofrimento com as minhas lágrimas.

Você pode até não concordar por eu não gostar que as minhas filhas vejam essas coisas. Mas, sabe, não costumamos largar uma criança na rua e virar as costas. Sinto muito se você ainda não percebeu que os seus pensamentos são tão perigosos quanto o mundo real. Não as bombardear nos nossos momentos em família com as coisas trágicas da vida é uma escolha. E isso não impede que conversemos sobre os conflitos da vida, mas focamos em analisar como eles ocorrem e o que podemos fazer para melhorar o que está ao nosso alcance. Se não há resposta, fazemos uma oração de bons desejos. Não que você tenha que fazer isso nem nada, apenas peço que me deixe alienar um tantinho.

Você pode alegar que as pessoas têm que ter força para lidar com a realidade, têm de encarar.

Ok. Eu hoje sou uma árvore de raízes fortes, mas o vento já me derrubou muitas vezes. E eu sei o que deixa irada a ventania da minha alma. Se eu tenho essa resposta, por que devo insistir no meu próprio sofrimento? É como desejar viver e mesmo assim tomar um veneno apenas para sentir o gosto. Quero não, obrigada.

Você pode continuar visitando a sua avó na hora do jornal, ver a novela ao seu lado. Amar as pessoas que fazem isso. Mas também pode optar por ficar longe das coisas que lhe fazem mal. É uma opção. Cada um faz as suas. Deixa eu fazer as minhas, porque você tem que admitir, segundo o conceito da palavra, se não o deixar, estará me alienando. Só para relembrar a definição: perturbação mental onde há anulação da personalidade individual. Percebe o paradoxo? Fazendo isso você tenta me alienar mais ainda.

A ilusão, a realidade, a alienação, o idealismo, todas são apenas ideias. A etimologia da palavra real faz com que você pense que a sua escolha está mais perto da verdade do que as outras. Mas olha, isso também pode ser uma ilusão.

A sua realidade é você quem cria. Com licença que eu vou criar a minha.

Mas não esqueça que o real pode ser tanto o que existe fora da mente quanto dentro dela. Não há ideal na humanidade, cada um de nós é diferente. O entender de um fato dependente do sujeito que o compreende. Quando você aceitar isso, vai me aceitar e ser feliz, porque eu não estou preocupada com as suas escolhas. Sou egoísta? Sou. Mas não é o egoísmo mau, o da omissão. É o ético. Se eu me cuidar, você não precisa fazer isso por mim.

Originally published at osegredo.com.br on March 30, 2018.

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